Sandra Benites, indígena guarani
Sandra é antropóloga, arte-educadora e artesã e doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, e curadora contratada pelo MASP. Sandra é uma das 8 protagonistas do filme Mulheres Iluminando o Mundo.
Qual a importância do protagonismo feminino na construção de diferentes narrativas?
A narrativa é que constrói as formas de ser, viver e acreditar, que dá o corpo. Nós, indígenas guarani, temos uma narrativa sobre a origem do mundo e os seres da terra. A versão de uma história vai depender de quem está contando e porque está sendo contada. A narrativa é um movimento que acompanha os corpos. A história também precisa ser contada a partir da ótica desses corpos diversos e experiências diferentes.
O filme também é uma forma de preservar e compartilhar a memória do legado de diferentes mulheres. Você percebe que existe uma ausência nesse sentido, no cinema e nas diferentes mídias?
Sim, o filme é uma forma de traduzir essa experiência, que aproxima dessa memória oral. Diferentes olhares de mulheres, contada, organizada e arquitetada por mulheres. Isso pode garantir essa versão das mulheres que se aproxima da emoção das mulheres. Em todos os lugares existe muita ausência do corpo feminino. Na academia, instituições, na arte, no cinema, principalmente mulheres que têm diferentes olhares. Não o olhar branco hegemônico.
O conceito de empoderamento tem sido cada vez mais discutido. Pra você, o que é empoderamento das mulheres?
No meu entendimento, o empoderamento é a nossa própria narrativa, voz e perspectiva. Quando por exemplo minha avó, mãe e tia, me contam as narrativas do nosso povo, é porque a gente precisa dialogar sobre as diferentes versões, para entendermos como podemos caminhar juntos. Hoje, no ritual de passagem do povo Guarani, os homens têm de escutar e entender a voz feminina, o que é o ser feminino e como interagir com as mulheres. Essa narrativa serve para a gente refletir quais caminhos vamos construir juntos. O empoderamento traz reflexões diferentes, que precisam ser discutidas com a masculinidade. O empoderamento das mulheres também precisa do apoio dos homens. Entender onde eles podem se inclinar, e em que momento a gente também se inclina, como uma dança de esquiva mesmo. Isso é como se fosse uma tradução dessa forma de diálogo.
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