Mulheres de Destaque na Educação
Em dezembro de 2018 a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas proclamou o dia 24 de janeiro como Dia Internacional da Educação. O objetivo é mostrar que a educação de qualidade e inclusiva é fundamental para o desenvolvimento de crianças e adolescentes e para combater às desigualdades sociais e de gênero.
A Educação está entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, como importante investimento no combate à pobreza, compromisso assinado por 193 países, dos quais o Brasil faz parte, com metas a serem alcançadas até 2030. Entre as propostas para a educação estão a de que todas as meninas e meninos tenham direito ao ensino primário e secundário livres, de qualidade e inclusivos.
Se hoje nas escolas estudam meninas e meninos e muitas mulheres estão nas universidades, em cursos das mais variadas áreas, o caminho não foi longo para chegar até aqui, mesmo na história recente. Quando os jesuítas criaram as primeiras escolas no Brasil, durante o período colonial, elas eram somente para meninos e homens da elite. Só após a independência do Brasil (1822), com lei de 1827, as meninas tiveram o direito de irem à escola, mas separadas dos garotos, com características de ensino bem diferentes. O foco para as meninas era prepará-las para cuidar da casa e da família, conteúdos como a matemática eram reduzidos. Só em 1879 foi inaugurada a primeira Instituição de Ensino Superior para mulheres, quando Maria Augusta Generoso Estrella voltou dos Estados Unidos, onde faculdade de medicina. Aos 16 anos, Maria Augusta escreveu uma carta de intenção para a New York Medical College and Hospital for Women e foi aprovada. O imperador D. Pedro II assinou um decreto para que a jovem tivesse uma bolsa de estudos, já que no Brasil não havia ensino superior para mulheres. Ela foi a primeira brasileira a receber bolsa de estudos no exterior. No retorno ao Brasil, a jovem médica trabalhou na saúde das mulheres e crianças e motivou o imperador a ampliar os estudos para mulheres.
Maria Augusta foi também a primeira médica brasileira, uma pioneira que, certamente, inspirou muitas mulheres a estudar. Tanto que hoje, as meninas apresentam mais sucesso na trajetória escolar. Entre os adultos com mais de 25 anos, 49,5% das mulheres concluíram o ensino médio, contra 45% dos homens, de acordo com dados da Pnad Contínua 2018. No ensino superior, mulheres representam 55% das matrículas de graduação. Na docência, a mesma porcentagem. Mesmo com mais graduações, as mulheres ainda tem salários mais baixos que dos homens que ocupam os mesmos cargos.
De acordo com os dados do Censo da Educação Básica 2017, as mulheres são 81% do professorado na educação básica brasileira. Ainda assim, falta muito para haver igualdade de gênero na educação. Conforme as mulheres vão progredindo na carreira acadêmica, esse cenário muda. A cada quatro pesquisadores seniores, apenas uma é mulher. A maternidade e a desigualdade na divisão das tarefas domésticas são alguns dos fatores que acabam por dificultar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal das mulheres – mas não dos homens. É na educação básica que se concentra a maioria das mulheres profissionais, especialmente na educação infantil. Nessa área, muitas vezes, o trabalho da professora é desvalorizado, vistas apenas como cuidadoras, e não como educadoras, tanto que há o incentivo para chamá-las de tias, o que não acontece com nenhuma outra profissão.
Mas, para que houvesse esse avanço, além de nossa primeira médica e bolsista, Maria Augusta, muitas outras mulheres lutaram para estudar, ensinar ou construir escolas, como Anália Franco, professora, jornalista e escritora, que inaugurou a própria escola para poder alfabetizar as crianças nascidas após a Lei do Ventre Livre, que dava liberdade aos filhos de escravos nascidos após a Lei sancionada, em 1871. As crianças eram colocadas para adoção ou expulsas das fazendas e não tinham direito ao estudo. Anália construiu dezenas de escolas, escreveu centenas de poesias e artigos e juntou-se aos abolicionistas, lutando pelo fim da escravidão.
Com certeza você já viu uma escola, instituição, hospital, ruas ou bairros com o nome de Anália Franco. Mas você quem foi e o que fez essa mulher, que nasceu em 1853, na cidade de Resende /RJ e começou a dar aulas aos 16 anos? Com incrível vocação literária, tornou-se jornalista e escritora, ficando sempre a par de todas as notícias, principalmente sobre repúblicas e abolicionistas. A partir da Lei do Ventre, alugou uma casa para alfabetizar crianças negras e de orfanatos. Passou a ser considerada uma mulher perigosa para os escravocratas e monarquistas, pois vivia “mendigando” para investir nos filhos de escravas. Na capital paulista entrou em grupos abolicionistas e republicanos, que logo lhe deram espaço para escrever artigos na imprensa. Em 1898 fundou sua própria revista, que em seu primeiro número já disse no editorial ao que veio, com o artigo “Às mães e Educadoras”. Criou várias escolas maternas. Seu manual educativo dividia-se em Infância, Adolescência e Juventude. Entre escolas, bibliotecas e cursos profissionalizantes, manteve 37 instituições em vida.
Anne Sullivan nasceu nos Estados Unidos, em 1866. Aos 5 anos ficou quase cega por causa de um tracoma. Dois anos depois sua mãe morreu e seu pai abandonou os filhos num orfanato. Sempre lutou para estudar e, após várias cirurgias, recuperou parte da visão. Conseguiu formar -se e foi oradora de turma aos 20 anos, no Instituto Perkins para Cegos. Foi quando começou a ensinar a menina Hellen Keller, 7 anos, cega e surda e de comportamento desobediente. Anne revolucionou o ensino inclusivo, alfabetizando Hellen pelo tato. Anne acompanhou Hellen em toda sua trajetória de aprendizado e depois, quando Hellen Keller tornou-se a primeira pessoa surda e cega da história a fazer bacharelado.
Antonieta de Barros, professora, jornalista e deputada brasileira: Muita gente ainda se pergunta como uma garota negra, que nasceu em 1901, apenas 13 anos após a abolição dos escravos no Brasil, conseguiu ser a primeira deputada negra do País, em uma época em que as mulheres mal participavam de política. Acontece que Antonieta de Barros cresceu no meio político. Seu pai morreu cedo e sua mãe trabalhava na casa do político Vidal Ramos, pai de Nereu Ramos, que viria a ser vice-presidente do Senado e único catarinense a assumir a Presidência da República. A intermediação dos Ramos ajudaria na futura carreira. Mas essa não foi sua única influência. Seus irmãos eram ativistas de organizações negras nos anos 1920.
Aos 17 anos, começou os estudos na Escola Normal Catarinense. Em 1919, ela já escrevia na Revista da Escola Normal e passou a presidir o Grêmio Estudantil no ano seguinte. Em 1922, criou o Curso Particular Antonieta de Barros em sua casa, voltado para alfabetização da população carente. Pretendia seguir no ensino superior, mas em sua época o curso de direito era proibido a mulheres.
Além de professora, foi jornalista e escritora e se destacou pela coragem em expressar suas ideias dentro de um contexto histórico que não permitia às mulheres a livre expressão.
A primeira eleição em que mulheres puderam votar e serem votadas para o Executivo e Legislativo no Brasil foi em 1934. Foi a primeira deputada estadual mulher e negra do país e uma pioneira no combate à discriminação dos negros e das mulheres. É autora da lei que instituiu o dia do professor e o feriado escolar no estado de Santa Catarina. Mais tarde, em outubro de 1963, a data seria oficializada no país inteiro pelo presidente da República João Goulart.
Dorina Nowill ficou cega aos 17 anos. A cegueira, contudo, não a impediu que seguisse carreira na área da educação. Em 1945, conseguiu convencer a Escola Caetano de Campos, onde cursava o magistério e viria a se formar como professora, a implantar o primeiro curso de especialização de professores para o ensino de cegos. Nessa época, livros em Braille eram raríssimos e ela teve que cursar a escola como estudante normal. Após diplomar-¬se, viajou para os Estados Unidos com uma bolsa de estudos paga pelo governo americano para frequentar um curso de especialização na área de deficiência visual, na Universidade de Columbia.
De volta ao Brasil, fundou a primeira imprensa braille do país. A editora é uma das principais fontes de renda da fundação que criou e produz mais de 80% dos livros do Ministério da Educação para deficientes visuais, além de receber encomendas especiais de cardápios para restaurantes, instruções de segurança de companhias aéreas e bestsellers. Na Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, ela foi a responsável pela criação do Departamento de Educação Especial para Cegos e em 1961, graças a seu empenho, o direito à educação ao cego virou lei. Em 1981, Ano Internacional da Pessoa Deficiente, ela foi convidada e falou na Assembleia Geral das Nações Unidas como representante brasileira. É conhecida internacionalmente como “A Dama da Inclusão”.
Emilia Ferreiro nasceu em Buenos Aires, em 1936, é psicóloga e pedagoga, doutora pela Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget. É uma das maiores influências da Educação brasileira dos últimos 30 anos. A publicação dos seus livros, nos anos 1980, causou grande impacto sobre a concepção sobre alfabetização. Ela aprofundou a pesquisa e aplicação da educação construtivista. Suas descobertas levaram à conclusão de que as crianças têm um papel ativo no aprendizado. Elas constroem o próprio conhecimento. Até então, os educadores só se preocupavam quando a criança parecia não aprender.
Tanto os argumentos de Jean Piaget como os de Emilia levam à conclusão de que as crianças participam ativamente do aprendizado. Elas constroem o próprio conhecimento (por isso a palavra construtivismo). A principal implicação dessa conclusão para a prática escolar é transferir o foco da escola e da alfabetização, principalmente, do conteúdo ensinado para o sujeito que aprende, ou seja, o aluno. Até então, os educadores só se preocupavam com a aprendizagem quando a criança parecia não aprender, Emilia Ferreiro inverteu essa ótica com resultados surpreendentes.
Em 1977, após o golpe de Estado na Argentina, viveu em exílio na Suíça, lecionando na Universidade de Genebra. Hoje, aos 86 anos, é professora titular no Centro de Investigações e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional, na cidade do México.
Malala nasceu no Paquistão, em 1997, numa região (Vale do Swat) que só o nascimento dos meninos é festejado. Lá as meninas não podiam frequentar escolas, mas seu pai professor, com apoio da mãe e irmãos, ensinava a filha e outras garotas. Aos 11 anos, Malala já defendia em seu blog o direto à educação das meninas, sendo perseguida pelo Talibã.
Aos 12 ia escondida para a escola e escrevia pedindo para sair do País para prosseguir os estudos. Aos 15 sofreu atentado de talibãs, que entraram no ônibus e lhe deram 3 tiros. As balas atingiram o lado esquerdo da testa e ela foi levada para a Inglaterra, onde fez seu tratamento a passou a morar em Birmingham, naquele país, exiliada ao lado da família. Essa tentativa de assassinato desencadeou manifestações em várias partes do mundo. Um ano após ser baleada, lançou sua biografia, Eu Sou Malala, discursou na ONU, ganhou o Prêmio Sakharov, entregue pelo Parlamento Europeu e anunciou a construção de uma fundação com o seu nome.
Em abril de 2013, Malala foi capa da revista Time e considerada uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. No início do ano seguinte, foi nomeada para o World Children’s Prize na Suécia. Em 10 de outubro, foi anunciada a atribuição do Nobel da Paz a Malala pela sua luta contra a repressão de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação. Com apenas 17 anos, Malala foi a mais jovem laureada com o Nobel. Malala partilhou o Nobel com Kailash Satyarthi, um ativista indiano dos direitos das crianças.
Formou-se em na Universidade de Oxford, uma das mais prestigiadas do mundo, nos cursos de Filosofia, Política e Economia. Continua como ativista ao direito fundamental de todas as pessoas à educação.