Mulheres Modernistas – Semana de Arte Moderna de 1922
Foram 3 dias de fevereiro de 1922, mas a repercussão foi tanta que o evento ficou conhecido como a Semana de Arte Moderna, que nesse mês completa 100 anos. Organizada por artistas modernistas, cansados da mesmice da cena artística na cidade de São Paulo a grande exposição coletiva teve recitais de poesia, apresentações musicais realizadas no Theatro Municipal de São Paulo. A Semana, considerada revolucionária, reuniu artistas modernistas que faziam parte da elite burguesa da época. A maioria era paulista, mas reunia artistas de outros Estados.
Mas o modernismo começou alguns anos antes, com uma exposição de Anita Malfatti, duramente criticada, principalmente pelo escritor Monteiro Lobato. Tais críticas fizeram com outros artistas se juntasse à Anita, iniciando o movimento artístico. Um fato curioso é que duas mulheres consideradas ícones do modernismo não participaram da Semana de Arte Moderna, mas por sua representatividade, são sempre ligadas à Semana. A pintora Tarsila do Amaral encontrava-se em Paris no período. Pagu, jornalista e escritora, tinha apenas 12 anos em 1922. Já algumas pioneiras que lá estavam, nem sempre são lembradas. A pianista Guiomar Novaes era mais conhecida internacionalmente do que no Brasil. Assim como Zina Aita, pintora e ceramista, que seguiu carreira na Itália. E Regina Gomide Graz, que começou na pintura, o que era comum para as garotas da alta sociedade no começo do século XX, mas passou a estudar a arte indígena, inspiração para suas peças em tapeçaria.
Evoluímos muito nesses 100 anos. Antes escultura não era coisa de mulher, tão pouco pinturas expressionistas. Às garotas era destinado aprender aquarela e bordado. Podemos concluir que essas mulheres mostraram ser possível fazer todo tipo de arte, mostrar sua arte para todas as pessoas. Viver da arte. Hoje temos uma indígena, Sandra Nhadewa Benites, como curadora-adjunta do MASP (Museu de Arte de São Paulo). A antropóloga é uma das 8 protagonistas do documentário Mulheres Iluminando o Mundo, o primeiro de uma séria, que apresenta mulheres pioneiras, ocupando lugares considerados “masculinos”.
Anita Malfatti nasceu com atrofia na mão e braço direitos, mas desenvolveu plenamente o lado esquerdo para escrever e pintar. Uma mulher de vanguarda, totalmente à frente de seu tempo, é considerada a primeira representante do modernismo brasileiro.Em 1917, cinco anos antes da Semana de Arte Moderna, expôs 53 de seus mais arrojados trabalhos. Uma crítica cruel em artigo de Monteiro Lobato chamou seus quadros de “desenhos dos internos dos manicômios”. Aos poucos, jovens poetas e artistas, inspirados por ela e em seu apoio, começaram a pensar em uma mostra revolucionária, com vários artistas reunidos.
Ao lado de Mario de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, formou o “Grupo dos Cinco”, representantes do modernismo e que defenderam as ideias da Semana de Arte Moderna, posteriormente ao evento, dando início a vários movimentos, inclusive o antropofágico. Após o marco histórico e ganhando cada vez mais visibilidade, Anita realizou seu sonho de estudar Artes na França: em 1923, ganhou uma bolsa para estudar em Paris.
Entre seus quadros mais famosos estão O Homem Amarelo e A Boba, um dos pontos mais altos de sua obra, fruto de uma fase em que a sua pintura expressionista absorve elementos cubistas e futuristas.
Filha de imigrantes italianos, Zina Aita nasceu em Belo Horizonte, mas foi para a Itália com seus pais de 1914 a 1918 e estudou arte em Firenze. Na volta ao Brasil conheceu Manuel Bandeira, Ronald de Carvalho, Anita Malfatti e outros nomes importantes do Modernismo. Pintora de talento, mas que preferia trabalhar com cerâmica, Zina passou a contribuir com ilustrações para a revistas símbolo do Modernismo paulista: a Klaxon. Na época se aproximou da Art Nouveau e do pós-impressionismo.
Teve pouca visibilidade no Brasil, mas conseguiu expor uma mostra individual em Belo Horizonte no início de 1920. Foi o suficiente para que a artista mineira participasse da Semana de 22 (com apenas 22 anos), exibindo oito telas e várias impressões. As telas já mostravam sua tendência decorativa e sua preferência pela figura humana, além de uma forte ligação com o Impressionismo. Para os estudiosos da Semana da Arte Moderna, Zina Aita é considerada a que mais agradou ao público, mas foi esquecida no Brasil.
Então decidiu mudar-se definitivamente para a Itália. Em Nápoles dirigiu uma fábrica de cerâmica, a Freda, e trocou a pintura pelas artes industriais, sendo internacionalmente conhecida e obtendo diversos prêmios, além de ter obras adquiridas para o Museu Internacional da Cerâmica.
Guiomar Novaes tinha 28 anos e já era uma pianista renomada, reconhecida internacionalmente, quando fez um recital na terceira noite da Semana de Arte Moderna de 1922, com obras de Debussy e Villa-Lobos (de que foi grande divulgadora no exterior). Durante sua apresentação, a plateia do Teatro Municipal de São Paulo permaneceu em silêncio e depois aplaudiu, calorosamente, de pé.
Guiomar começou tocar aos quatro anos, observando as irmãs mais velhas, e aos 8 já dominava a técnica, lendo partituras. Aos 15 foi estudar música na Europa e se apresentou em vários países. Veio a I Guerra Mundial e Guiomar Novaes mudou-se para os EUA, onde recebeu críticas entusiasmadas, sobre sua habilidade e talento, toda vez em que se apresentava. Entre seus admiradores, para os quais também se apresentou, personalidades como a Rainha Elizabeth 2ª e o presidente americano Franklin Roosevelt.
Entre 1913 e 1920 Regina Gomide Graz estudou na Escola de Belas Artes e de Artes Decorativas de Genebra (Suíça) com seu irmão Antonio Gomide Antonio Gomide e de John Graz (com quem viria a se casar).
Os três voltaram para o Brasil juntos, trabalhando pinturas e objetos decorativos ligados ao estilo art deco. Regina Gomide Graz expôs suas peças de tapeçarias na Semana de Arte Moderna de 1922, sua criação com figuras geométricas teve forte influência cubista.
Parte da obra da artista perdeu-se no tempo, porém sua importância, integrando o pequeno grupo de mulheres da Semana de Arte, não pode ser diminuída ou menosprezada. Gomide Graz, como também era chamada, dedicou-se ao estudo da arte têxtil indígena, no Museu do Índio, tentando preservar e popularizar a arte indígena.
De sua produção da década de 1920, poucas obras foram preservadas. Regina Graz dedicou-se, principalmente, à decoração de interiores, trabalhando com tapeçarias em veludo, panneaux e almofadas, criando motivos que se aproximam da abstração geométrica, derivada das experiências cubistas.
Apesar de parte da obra da artista ter se perdido no tempo, sua importância, integrando o pequeno grupo de mulheres da Semana de Arte, não pode ser diminuída ou menosprezada. Gomide Graz, como também era chamada, dedicou-se ao estudo da arte têxtil indígena, no Museu do Índio, tentando preservar e popularizar a arte indígena.
Tarsila do Amaral, principalmente fora do meio universitário, costuma ser indicada como uma das principais participantes da Semana de Arte Moderna. Porém, nenhuma obra sua foi exposta no evento, Tarsila nem estava no Brasil em fevereiro de 1922, estava em Paris.
Ela é um ícone do movimento modernista e um dos principais nomes da arte moderna da América Latina. Apesar de não ter participado da Semana, foi apresentada, por sua amiga Anita Malfatti, aos modernistas Oswald de Andrade, Mario de Andrade e Menotti del Picchia, meses depois do evento. Juntos, formaram o Grupo dos Cinco.
Com os escritores Oswald de Andrade (que viria ser seu segundo marido) e Raul Bopp, lançou o movimento “Antropofágico”, que foi o mais radical de todos os movimentos do período Modernista.
Patrícia Rehder Galvão, mais conhecida como Pagu, tornou-se musa dos modernistas, embora não tenha participado da Semana de Arte Moderna. Tinha apenas doze anos em 1922, quando a Semana se realizou. Entretanto, aos dezoito anos, pouco depois de completar o curso na Escola Normal da capital paulista, integrou-se ao movimento antropofágico, sob a influência de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Pagu foi escritora, poetisa, tradutora, desenhista, jornalista e ativista política. Casou-se com Oswald de Andrade, após sua separação de Tarsila para casar-se com Pagu, já grávida de 6 meses (um escândalo). Ao lado de Oswald, passou a militar no Partido Comunista em 1930. Acabou sendo a primeira presa política da história do Brasil após participar de uma greve de estivadores e foi presa 23 vezes durante a vida. Seu primeiro romance também foi o primeiro romance proletário da literatura brasileira: Parque Industrial (1933). Após isso, rodou o mundo como jornalista. Entre suas ações mais populares está uma entrevista com Sigmund Freud e a participação da coroação do último imperador chinês, Pu-Yi.