Dra Sônia Guimarães, primeira mulher negra a lecionar no ITA
Sônia é a primeira mulher negra brasileira doutora em Física e primeira mulher negra brasileira a lecionar no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), é uma das 8 protagonistas de Mulheres Iluminando o Mundo.
Qual a importância do protagonismo feminino na construção de diferentes narrativas?
Vou colocar protagonismo negro nessa construção. É fundamental para elas, as meninas negras, terem em quem se espelhar ou ter a famosa representatividade que, ultimamente, ando com raiva dessa palavra. Porque com isso, muitas pensam: “não tem ninguém igual a mim, então não vou”. Isso é estupido, porque você pode ser a representatividade de alguém. Então não deixe que essa história te impeça. É mais importante representatividade política, portanto, quando for votar pense bem. Mas o protagonismo feminino na construção de diferentes narrativas puxa outras pessoas femininas para aquelas diferentes histórias. E se for um feminino negro certamente terá pouco. Portanto, vamos aumentar este número, trazer mais mulheres negras, isso é fundamental. Essa é a base para que essa falta de cor em tudo neste país acabe ou diminua. Esse protagonismo deve trazer mais meninas negras, construir diferentes narrativas: mais coloridas, mais bonitas, inteligentes, diversas e mais modernas.
No cinema e nas diferentes mídias existe a ausência da diversidade. O filme preserva e compartilha a memória do legado de diferentes mulheres. Você percebe que existe uma ausência nesse sentido?
Olha, de uns tempos para cá, a coisa está mudando de uma forma maravilhosa. Moro em São José dos Campos há 28 anos e tem um shopping aqui em que é o primeiro ano em que na propaganda de primavera há uma menina negra desfilando. E eu nunca tinha visto nem morenas, normalmente são loiríssimas de olhos azuis. E isso é uma mudança. Mas sim, a ausência é grande, tem mudado lentamente e pouco, mas tem mudado. Portanto, existe uma luz lá no fim do túnel. A mídia se esqueceu por alguns anos das pessoas negras, principalmente das mulheres. A menos que fosse para apresentar como empregada doméstica ou uma escrava que apanha e é estuprada. Mas agora tem aparecido mulheres fortes, que comandam e isso é muito bom. Estou gostando de ainda estar viva e ver o que está acontecendo na mídia. Tem propaganda que só tem mulheres negras e acho que nunca tinha visto isso na minha vida.
O conceito de empoderamento tem sido cada vez mais discutido. Para você, o que é empoderamento e quais mulheres te inspiram neste sentido?
A minha mãe, definitivamente, é uma pessoa extremamente empoderada. Agora ela já está mais “tranquilinha”, com alguma idade. Mas quando eu tinha 12 ou 13 anos, meu pai foi diagnosticado com tuberculose. E, por causa disso, ele precisou ficar internado em Campos do Jordão por seis meses. Minha mãe se viu sozinha com quatro crianças com menos de dez anos (sou a mais velha). Ela tinha que fazer todo mundo sobreviver, sem morrer de fome. Criou um bufê de festas que existe até hoje. Isso é empoderamento: não desistir nos piores momentos, não parar nos obstáculos e isso é fundamental para a gente mostrar para as nossas meninas. Os desafios vão aparecer, mas o importante é passar por cima ou pelo lado, ou embaixo, mas passar. Não deixar que ele te impeça de seguir seu sonho. E não é bola para frente que atrás vem gente porque na frente tem um monte de gente que vai ter que ultrapassar para continuar seguindo. As pessoas precisam saber que são poderosas, é só não desistir que, no final, vai dar tudo certo.
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